Marcha do Arco-Íris reuniu 2000 pessoas na Esplanada dos Ministérios em Brasília
Sob os gritos “fora homofobia” e “homofobia, já chegou a sua hora”, cerca de 2 mil gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais de todos os estados do país participaram quarta-feira, em Brasília, da 1ª Marcha Nacional Contra a Homofobia, a Marha do Arco-Íris. Além da luta pelo fim da aversão aos homossexuais, o movimento pediu a garantia do Estado laico — sem interferência de nenhuma religião —, combate ao fundamentalismo religioso, cumprimento do Plano LGBT, aprovação do projeto de lei que criminaliza a discriminação, e que o Judiciário decida a favor da união estável entre os casais homoafetivos e da mudança de nome dos transexuais.
A 1ª Marcha Nacional contra a Homofobia, formada por caravanas das 27 unidades da Federação, lançaram, em Brasília, o Grito Nacional pela Cidadania LGBT (Lésbicas, Ggays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e contra a Homofobia. Desde cedo, representantes de 237 organizações filiadas à Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) estiveram concentrados em frente à Catedral Metropolitana, na Esplanada dos Ministérios.
O Ministério da Cultura tem apoiado o segmento com ações coordenadas pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID/MinC). Uma das iniciativas é o Programa Brasil sem Homofobia da Presidência da República, com os editais dos concursos do Prêmio Cultural LGBT.
Ainda pela manhã, os manifestantes seguiram para o Congresso Nacional para reivindicar a aprovação imediata do Projeto de Lei da Câmara nº 122/2006, que estabelece normas de combate a todo tipo de discriminação, incluindo a homofobia, e determina sanções às práticas discriminatórias em razão da orientação sexual.
A programação da marcha incluiu ainda dois seminários voltados ao debate de questões relacionadas à homofobia. Um na Universidade de Brasília (UnB), para tratar da interface com os movimentos sociais dos quais a juventude participa, e outro na Câmara dos Deputados, com o tema Direitos Humanos de LGBT: Cenários e Perspectivas. Também acontece apresentação do espetáculo O Diário de Minerva, de Cleuza Brandão, no Teatro dos Bancários de Brasília.
Juntas a pouco mais de um mês, as estudantes brasilienses Thais Facchin e Juliana Pinheiro, ambas de 18 anos, não se intimidaram em trocar beijos e carícias durante a marcha. “Ainda é muito difícil assumir publicamente a homossexualidade no Brasil; por isso, quando soube da realização da marcha, fiz questão de vir”, afirmou Thais, moradora de Sobradinho. “Tem quase um mês que contei para a minha família. A manifestação é importante para cobrarmos nossos direitos”, completou Juliana.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, a marcha superou todas as expectativas. “Diferentemente das paradas gays, onde as pessoas vão festejar, conseguimos reunir pessoas politizadas e cientes da nossa causa. Também contamos com a presença de 50 parlamentares, vereadores do interior do país e de dois presidenciáveis, Plínio de Arruda Sampaio (PSol) e José Maria Eymael (PSDC).”
Revoltados com a presença dos humoristas Carioca e Cesar Polvilho, do programa Pânico na TV!, os participantes da marcha os expulsaram da Esplanada dos Ministérios. “Eles estavam fazendo matéria jocosa. Perguntei para eles se sabiam quantos travestis são assassinados no Brasil e o porquê da realização dessa manifestação em Brasília”, disse a presidenta da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Jeovanna Baby. Ela e outros participantes não deixaram os humoristas gravarem matéria que seria exibida no programa do próximo domingo.
Caracterizados dos ex-integrantes do Big Brother Brasil Dicesar (Carioca) e Sérgio (Cesar Polvilho), ambos homossexuais, a dupla não conseguiu concluir as filmagens da marcha. “Eles queriam fazer uma sátira negativa”, disse o estudante de ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB) Rodolfo Godoi, 17 anos. Ele se juntou aos manifestantes que pressionaram pela retirada dos humoristas. A dupla precisou sair do local com a ajuda de seguranças.