Tom político na Parada LGBT São Paulo
Em ano eleitoral, a 14ª Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) de São Paulo fez festa pedindo que os homossexuais votem em candidatos que defendam o combate à homofobia. Com o tema "Vote contra a homofobia - defenda a cidadania!", o evento reuniu milhões de pessoas na tarde de ontem em vias importantes como a Avenida Paulista e a Rua da Consolação. A prefeitura esperava 3,2 milhões de pessoas na Parada, mas nem os organizadores nem a PM divulgaram projeções de público.
No alto de um dos 17 trios elétricos que tocavam techno e dance music e exibiam balões com as cores do arco-íris, um participante chamava a atenção para o tema da Parada, com um cartaz com os dizeres "Os evangélicos somam 9% do Congresso. E nós? Vote certo. Vote contra a homofobia".
Pedida a aprovação de lei contra discriminação
Em vários postes da Avenida Paulista, cartazes cobravam a aprovação do projeto de lei 122, de 2006, que altera o Código Penal para punir a discriminação ou preconceito em relação à orientação sexual.
No início do evento, foi pedida uma vaia para políticos homofóbicos.
A legislação brasileira foi criticada por integrantes do evento, por restringir os direitos dos homossexuais.
Na opinião da psicóloga Monique Ladeira, de 29 anos, e da jornalista Sandra Pereira, de 39, que vivem juntas há cinco anos no Rio de Janeiro, as leis demoram muito para ser votadas.
- Estamos casadas há cinco anos. Se eu morrer, a Sandra não pode herdar nada, e não tem acesso ao seguro saúde pela minha empresa. O mínimo que se deveria fazer é tornar a homofobia crime, para, se você sofrer preconceito, poder ir até a delegacia sem ser alvo de chacota - disse Monique.
Sandra Pereira disse que descarta escolher a senadora Marina Silva, do PV, para a Presidência, devido às posições da précandidata, evangélica, contra o casamento de homossexuais.
- Todos os meus amigos estão discutindo isso: votar em quem defende as leis a favor da homoafetividade. A gente viu a Marina Silva falando abertamente que é contra. Não sei ainda qual é a posição da Dilma Rousseff nem a do (José) Serra. Mas na Marina Silva eu já descartei meu voto - afirmou Sandra.
O discurso contra a homofobia também estava na ponta da língua de pessoas que se fantasiaram especialmente para a Parada Gay, como Tamara Tâmara, de 44 anos, enfermeiro registrado com o nome de Edmar, de 44 anos, que foi vestido de noiva.
- Trouxemos o arquétipo da noiva, simbolizando o casamento.
Não buscamos o casamento, buscamos o reconhecimento dos direitos homossexuais - disse Tamara, ao lado do companheiro, com quem vive há três anos.
Famílias e curiosos misturados à multidão
Pré-candidatos ao Planalto, José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva foram convidados, mas não compareceram.
A petista Marta Suplicy, pré-candidata ao Senado, estava no penúltimo carro. A multidão era formada também por moradores da região, curiosos e famílias.
A professora Elizete Freitas, de 54 anos, foi passear com o marido e o cachorro para ver o "movimento".
- Venho há três anos. É uma realidade da sociedade, temos que lutar contra a homofobia.
Segundo a PM, a Parada LGBT ocorreu de forma pacífica, sem ocorrências graves
Menos cor no arco-íris
Neste ano, a organização decidiu que os trios seriam monocromáticos. E pediu a gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, simpatizantes e curiosos que comparecessem sem cor.
A razão da falta de cor foi política. A parada quer que os pré-candidatos à Presidência da República se comprometam com um projeto de lei, em tramitação no Congresso, que transforma a homofobia em crime, da mesma maneira que o racismo.
"Gente, vamos votar num candidato que apoie nossa luta", discursou um militante num dos trios elétricos.
Nenhum dos principais pré-candidatos apareceu.